domingo, novembro 14, 2010

Raridades de minha biblioteca 2


Outra raridade de minha biblioteca é a edição de Os papéis de Aspern (The Aspern papers), novela do escritor americano Henry James (1843-1916).
Como o Caça ao Turpente, este volume foi publicado pela Interior Edições, em 1984. Também como a primeira obra, esta foi traduzida e apresentada por Álvaro A. Antunes.
Pensei que se tratava da única tradução para o português dessa novela. Contudo, ao preparar este post, numa busca nos catálogos online das livrarias descubro uma edição portuguesa (Os manuscritos de Aspern, da Editora Relógio D'Água). De qualquer forma, continua sendo um texto raro aqui no Brasil (se você quer ler The Aspern papers, em inglês, pode baixar na biblioteca virtual do Projeto Gutemberg - para acessar, clique aqui).
O texto nos remete a diversas indagações. Uma delas é quais são os limites que nos colocamos para atingir nossos objetos de desejo.
Um editor americano procura textos inéditos de um famoso escritor chamado Jeffrey Aspern que morrera há muito tempo. Empenhado nessa missão, vai à Veneza para tentar obter misteriosos manuscritos de Aspern que pertenceriam a uma mulher (a Senhora Bordereau) que, na juventude, teria mantido um relacionamento amoroso com o escritor. Diante da reclusão que vive a senhora Bordereau e dos motivos que o movem, o editor cria uma ardilosa estratégia: apresentando-se com um nome falso propõe pagar boa quantia pela locação de acomodações da casa de Bordereau e, assim, encontrar meios - quaisquer que fossem - para chegar aos cobiçados papéis que estariam guardados na casa.
Colocado nessa situação, o personagem é testado, até o seu limite, no que se refere à paciência, ao caráter e, finalmente, à realização de suas vontades. No clímax da história o personagem principal passa, num momento, da condição de caçador para condição de presa. Seu objeto do desejo aproxima-se e afasta-se e ele se vê envolvido num grande problema: Pode até alcançar o que quer. Contudo, qual é o tipo de sacrifício que ele aceitará pagar por isso?
Ao mesmo tempo, a novela nos coloca diante de temas bastante atuais como o direito à privacidade em confronto com os interesses comerciais envolvidos na comercialização das histórias das vidas das pessoas.
Uma excelente obra. Pena que, diante das circunstâncias da edição brasileira, é quase tão desconhecida e inacessível quanto os manuscritos da narrativa.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Mídia e política

Qual a capacidade que a mídia tem de conduzir o processo político? Essa é uma questão que se coloca quando queremos compreender a democracia na atualidade.
Vi referências a um livro recentemente lançado no qual o historiador dirige o olhar sobre as matérias publicadas por importantes jornais cariocas nos primeiros anos da década de 1960. Segundo constatou, O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil mantiveram pesado ataque contra o governo de João Goulart e poderiam ter influenciado para o desfecho do golpe de 1964.
Ainda não li o livro. Mas li duas entrevistas do autor e considero que a proposta é muito interessante. Esses veículos de informação teriam assumido, de modo privado, funções da ação política como se fossem os únicos e verdadeiros representantes da sociedade. Para ler a entrevista publicada na página da revista História Viva, clique aqui. Para ler a entrevista na pagina da Associação Brasileira de Imprensa, clique aqui.

sábado, novembro 06, 2010

Raridades de minha biblioteca 1



Em meados da década de 1980 comecei a compor a minha biblioteca. Comprar livros era uma novidade interessante para mim. Os livros que lera até então eram, em sua maioria tomados em empréstimo de bibliotecas públicas. Poder ter o meu próprio livro era uma experiência sem igual.
Contudo, uma série de obstáculos apareciam entre eu os meus desejados livros. A falta de experiência como comprador, a falta de recursos suficientes em confronto com o sempre elevado preço dos livros, além da terrível inflação que enfrentávamos naquela época, tornavam o ato de comprar esses objetos algo próximo da aventura.
Não tínhamos, ainda, a internet e as livrarias on-line. Mas havia a Leia Livros, uma revista que acabou extinta, o Folhetim na Folha de S. Paulo e o Suplemento Cultural do Estado de S. Paulo. Por meio deles eu fazia dos livros meus objetos de desejo.
Num dia, lendo um desses veículos acabei conhecendo uma pequena editora chamada Interior Edições. Ela ficava na cidade de Além Paraíba, em Minas Gerais. Foi provavelmente no início de 1986. Não sei precisar como foi, mas provavelmente aconteceu por conta da leitura de resenha do livro "A caça ao Turpente". Penso que foi assim porque, desde daquela época, tenho o costume de, ao adquirir um livro, escrever o meu nome e a data da aquisição. No exemplar desse livro anotei "maio de 1986".
Adquiri o referido livro por meio de compra direta na editora, com o negócio sendo operacionalizado, provavelmente, pelo reembolso postal. Negociei por meio de cartas. Não era fácil como hoje.
Mas, valeu a pena. Recebi, aliás, fui buscar (e pagar) na agência do correio, os meus exemplares adquiridos.
Vou mostrar neste post apenas de A caça ao Turpente. Num próximo post vou falar dos outros livros lançados pela Interior Edições.
A caça ao Turpente é uma tradução de The hunting of the Snark, de Lewis Carrol. Aiás, trata-se de uma edição bi-lingue da obra. Edição muito bonita e bem cuidada, por sinal. Há uma introdução feita pelo tradutor, o prefácio do autor, o texto propriamente, um conjunto de notas à tradução e dois apêndices que tratam do universo literário de Lewis Carrol. A capa (vocês podem ver) é bem apropriada ao conteúdo da obra.
O autor é mais conhecido pelos Alice's adventures in wonderland e Through the looking-glass. Aliás, eu comprei e li, na mesma época, a edição com a tradução de Sebastião Uchoa Leite, desses dois textos (CARROL, Lewis. Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Tradução Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Summus, 1980).
Lewis Carrol (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson) foi professor de matemática na Inglaterra, no período vitoriano e escreveu obras que se caracterizam pela ousadia literária. Classificar sua obra como nonsense é reduzi-la e fazer um juízo simplista.
A caça ao Turpente é um poema. Um poema que narra a aventura de uma caçada a uma criatura fantástica e estranha. Turpente foi a solução que o tradutor (Álvaro A. Antunes) encontrou para expressar em português uma das "palavras valises" inventadas por Carrol. Considerou que Snark é uma mistura que contrai as palavras snake (serpente) e shark (tubarão).
Os caçadores, por sua vez, não são menos estranhos: Campainha (Bellman), o comandante, é acompanhado, no navio, por Chineleiro, Chapeleiro ("um perito ao olhar"), Conselheiro ("pra causas, contendas"), Corretor ("para os bens valorar"), Carambola (Billiard-marker), Caixa [de banco] ("havendo enorme proventos/Guardar-lhes toda quantia"), Castor, entre outros estranhos tripulantes.
A caçada, por sua vez, se dá por meios e movimenta recursos que fogem ao comum, como podemos ver nessa passagem que está na página 79:

Com dedais e cautela saíram a caçá-lo;
Com garfo e esperança o achar;
Com uma ação ferroviária ameaçaram matá-lo;

Com sabão e sorriso o encantar.

Tudo isso torna, enfim, a leitura do texto uma fascinante aventura.


A caça ao Turpente, hoje, é um livro raro. A editora, ao que tudo indica, não funciona mais. Em todos esses anos nunca vi um exemplar numa livraria. Segundo os sistemas de busca no acervo, a Biblioteca Nacional possui um exemplar, a Biblioteca Mario de Andrade (de São Paulo), não possui exemplares, o sistema de bibliotecas da USP possui apenas um exemplar, as bibliotecas da Unicamp, da Unesp e da UFRJ também não possuem exemplares da obra.





terça-feira, novembro 02, 2010

Batalha campal virtual

Hoje, observei com curiosidade o que vou denominar de uma batalha campal virtual. Na verdade esse confronto não se deu apenas hoje. O fato de ser um feriado, por outro lado, parece que potencializou a dita batalha.
Acompanhava as notícias nos portais da grande mídia, em especial as notícias a cerca das articulações políticas pós eleições, no plano federal. No portal UOL, do grupo do jornal Folha de S. Paulo, uma notícia sobre nomes que podem compor o ministério de Dilma. No portal do jornal Estado de S. Paulo um interessante mapa da eleição mostra o percentual de votos de cada candidato no segundo turno em cada município - mapa é pintado de vermelho (se Dilma venceu) ou de azul (se Serra venceu). Como no Google map, é possível aproximar ou afastar. Ao colocar o cursor sobre o mapa aparece o nome do município e o percentual de votos de cada candidato (clique aqui para ir para a página - há ainda outras informações e os mapas com resultados por bairros nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro).
Mas, o que acabou me chamando a atenção foram os comentários de leitores. Era aí que acontecia o que chamei de batalha campal virtual. Provocações, ofensas, gritaria (sim porque a caixa alta - que no mundo virtual foi convencionado como falar alto - imperava), rancores, escárnio, preconceito, tudo isso estava presente.
Manifestações que revelam ódio e sentimentos primários. O mundo virtual se transformou num lugar de confronto violento, insano, desregrado. Apesar disso, interessante observar, nesse caso, dois aspectos:
1) percebe-se uma divisão dentro desse segmento que, numa imensa simplificação, poderíamos chamar de classe média - representada por esses personagens que, na manhã de um feriado, sentam-se diante do computador e constroem discursos inflamados a cerca dos resultados da eleição e das perspectivas para a política no plano federal em 2011. Não se trata, portanto, de um país dividido - como eu li alguns dias antes da eleição - mas de uma fração de classe social que está dividida.
2) essa fração de classe social é escolarizada, possui recursos materiais e tem acesso às tecnologias de comunicação e informação que permitem que seus membros participem do mundo virtual - mais especificamente dessa praça pública que são os comentário de matérias nos portais de notícias - movidos pela paixão, reduzem o debate à isso que chamei de batalha campal virtual.
É um interessante fenômeno para ser estudado na medida que se trata de uma forma moderna de enfrentamento no campo político - pelo menos no diz respeito ao discurso político.
Agora, interessante saber o que move o indivíduo num confronto como esse. Aliás, um confronto sem face a face. Em tese é possível, inclusive, agredir alguém que, no mundo real, nos parece (ou é) simpático. Isso porque não há garantia de identificação. Assim, um comentário agressivo pode ser dirigido, sem saber, ao meu vizinho que toma o elevador comigo, ou a alguém da minha família.
Muito se tem dito sobre a grande potencialidade que a internet traz para o mundo da político decorrente da ampliação dos espaços de participação as discussões. Contudo, não podemos nos esquecer da possibilidade, como observamos no Brasil hoje, dessa batalha campal virtual que, como observamos, esvazia o debate.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Minha opção

Quem estava lá em 1989 vai se emocionar... Sem mais palavras, apenas as imagens para dizer o que queremos:

terça-feira, outubro 05, 2010

Analfabetismo?

Encerrado o primeiro turno das eleições 2010 um assunto vem à mídia para rivalizar com a disputa presidencial. Trata-se da eleição do cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva como deputado federal pelo estado de São Paulo. Francisco é conhecido pelo nome do personagem que representa em programas na TV: Tiririca. Recebeu 1353820 votos e, dessa forma, foi o candidato a deputado que recebeu a maior votação absoluta nessa eleição.
Ocorre, no entanto, que há uma ação movida pela Procuradoria Regional Eleitoral contra Francisco Everardo tentando provar que ele é inelegível uma vez que seria analfabeto (clique aqui para ver matéria do portal G1).
A Constituição Federal estabelece que todo cidadão maior tem o direito de votar. Com isso, o direito ao voto estende-se aos analfabetos. Essa foi uma inovação importante da atual Constituição uma vez que em todas as Constituições anteriores o direito ao voto era restrito aos que sabia ler e escrever. Essa restrição, na Primeiro República, fazia com que o eleitorado fosse muito pequeno na medida que a grande maioria da população era analfabeta. Por isso, nas primeira décadas do século XX, intelectuais ligados ao setor da educação viam na ampliação do acesso à escola primária um meio de fazer uma revolução política - uma vez que o resultado seria a ampliação e diversificação do eleitorado.
Por outro lado, a atual Constituição Federal restringe o acesso aos cargos eletivos. Textualmente: "São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos" (artigo 14, parágrafo 4º, grifos nossos).
Parece muito claro: o cidadão que é analfabeto não pode sequer se alistar como candidato.
Contudo, o problema é definir, de modo objetivo o que é ser analfabeto. Não é simples. A própria matéria cujo link indicamos acima mostra alguns critérios. Por exemplo, se o candidato apresentar um comprovante de que foi matriculado em uma escola já é o suficiente, dentro das normas, para que se torne alistável e elegível. Mas, para além das regras administrativas da justiça eleitoral, o entendimento do que ser alfabetizado se mostra complexo. Por isso a existência de noções como analfabetismo absoluto, analfabetismo funcional e letramento, por exemplo. Uma discussão interessante sobre o tema encontra-se num relatório por Sérgio Haddad numa pesquisa coordenada por Vanilda Paiva (ver o texto aqui).
Há um outro lado que merece ser tratado. É possível perceber em alguns textos publicados e nos comentários que surgem, a manifestação de um discurso preconceituoso. Há uma tentativa de desqualificação do candidato eleito - e a suposta condição de analfabeto (por mais fluida que essa condição parece ser) é utilizada, estrategicamente, para legitimar essa tentativa.
De outro lado, o candidato é apresentado como palhaço. Em outras circunstâncias ele seria "humorista". Essa transformação no uso das designações não é uma coisa a toa.
Além disso, o vazio programático de sua campanha eleitoral é sempre mencionado. Esse argumento me parece o mais hipócrita. A maior parte dos candidatos aos cargos do legislativo não possui propostas. Nesse sentido, o diferenciaria Tiririca de outro candidato desconhecido?
O fato de utilizar o personagem como meio de atrair votos é também criticado. Mas, então porque a mídia mantém coladas a realidade e a ficção? Uma consulta descuidada à pagina do portal G1 (que é o braço da Rede Globo na internet) pode fazer o leitor confundir fatos reais com aqueles criados nas novelas apresentadas na TV.
Exibicionismo, tipos que se sustentam apenas pela imagem ou por características vazias de conteúdo são regra no mundo midiático.
Por que, então, condenar Tiririca?
A melhor resposta que encontrei até agora veio do cartunista Laerte:

quarta-feira, agosto 04, 2010

Por que desconfiamos da escola?

Na Revista da Fapesp de Julho há uma entrevista com o físico Moysés Nussenzveig (clique aqui para ir até a entrevista).
O entrevistado é um renomado cientista. Além disso, é o autor de um bom livro de física básica para os cursos superiores. Isso não é pouco. Afinal, salvo engano de minha parte, trata-se do único texto dessa natureza produzido por professor brasileiro (quem participou de algum estudo de física básica no ensino superior o fez, normalmente, utilizando manuais de autores estrangeiros: Halliday, Sears, dentre outros).
Mas, o que quero comentar é uma parte da entrevista que revela uma situação que nos convida a pensar.
Nussenzveig comenta um projeto que está envolvido com outros importantes pesquisadores da área do ensino das ciências no Brasil: a reedição de uma coleção de kits científicos para crianças e adolescentes. Reedição porque na década de 1970 a Editora Abril lançou a referida coleção que era composta de publicações impressas e os kits propriamente ditos. Os fascículos eram vendidos nas bancas de jornal.
O projeto parece interessante e de grande valor.
O que nos chama a atenção, contudo, vem no final da primeira página (do texto on-line). Depois de apresentar quem são os pesquisadores que estão envolvidos no projeto e mencionar a possibilidade de o Ministério da Educação comprar os kits para distribuí-los nas escolas, Nussenzveig afirma que, como outros, ele não concorda com esse encaminhamento. Em muitas escolas os kits não chegariam às mãos dos alunos porque, ainda segundo o entrevistado, os professores não estão preparados para despertar os alunos a curiosidade que é a mola da ciência. Ou seja, os professores não são capazes de motivar os alunos para se envolver com a ciência.
Entende-se que a escola - ou o que podemos chamar de educação formal - não responde de modo adequado à necessidade de iniciar os alunos no campo das ciências. O que, aliás, Nussenzveig reafirma, é essencial nos dias de hoje.
O que nos chama a atenção é justamente isso. Há uma desconfiança em relação à escola.
Não vamos aqui simplesmente nos colocar contra o entrevistado. Negar essa desconfiança seria uma imprudência. Ela existe, é um fato incontestável.
Nossa pergunta, pensamos, deve ser: Por que a escola não responde às necessidades da sociedade?
Ao mesmo tempo, o que faz com a educação não escolar apareça como meio mais eficaz para empreender tão importante objetivo como esse que é apresentado?

terça-feira, julho 27, 2010

Lembrei de Drummond

"Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro".
Estes são versos do poema Morte do leiteiro, de Carlos Drummond de Andrade (publicado em A Rosa do Povo).
Lembrei desses versos ao saber de um triste ocorrido em Fortaleza (CE), na tarde do dia 25 de julho de 2010. Uma guarnição da PM passa por uma movimentada avenida da cidade. Um policial atira contra os ocupantes de uma motocicleta. Morre um rapaz de 14 anos (a idade de meu filho...) que ia na garupa. O condutor da moto era o próprio pai. Vinham, no final da tarde, do trabalho. O pai era técnico de refrigeração. Tinha o filho como ajudante. Havia atendido um cliente.
Nos versos de Drummond um jovem leiteiro entrega o produto durante a madrugada. Faz o seu trabalho discretamente para não acordar ninguém.
"Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha".
Mas, é inevitável algum pequeno barulho. Com isso um homem
..."acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro".
Como o homem do poema, o policial estava num sono-vigília que impede de pensar. Então, as únicas regras que existem são: "ladrões infestam o bairro" e "ladrão se mata com tiro".
O resultado, nos dois casos, foi o mesmo. No poema
..."o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente".
O policial, desesperado, afirma: foi um disparo acidental.
Acontecido o desastre, a cidade pára em torno da cena que constrói a história.
"Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei".
Em Fortaleza, na tarde daquele dia, no meio da rua, ferramentas espalhadas no asfalto acusam a origem dos personagens. O chão da rua expõe, então, o que não gostaríamos de ver.

domingo, abril 04, 2010

Entrevista de Fernando Henrique Cardoso

Interessante entrevista dada por Fernando Henrique Cardoso e publicada no jornal O Estado de S. Paulo (clique aqui para ver).
Pode-se não concordar com as posições do ex-presidente mas o fato é que temos nessa publicação um exemplo de produto de mídia que anda cada vez mais raro. Um personagem importante provocado a partir de questões muito bem formuladas. Talvez aí esteja o motivo da boa qualidade da entrevista: a banca de entrevistadores é composta de pessoas brilhantes (mas que não procuram o lugar centrar do personagem entrevistado). As questões acabam levando o personagem a falar de aspectos essenciais da vida política e do pensamento brasileiro.