quarta-feira, agosto 04, 2010

Por que desconfiamos da escola?

Na Revista da Fapesp de Julho há uma entrevista com o físico Moysés Nussenzveig (clique aqui para ir até a entrevista).
O entrevistado é um renomado cientista. Além disso, é o autor de um bom livro de física básica para os cursos superiores. Isso não é pouco. Afinal, salvo engano de minha parte, trata-se do único texto dessa natureza produzido por professor brasileiro (quem participou de algum estudo de física básica no ensino superior o fez, normalmente, utilizando manuais de autores estrangeiros: Halliday, Sears, dentre outros).
Mas, o que quero comentar é uma parte da entrevista que revela uma situação que nos convida a pensar.
Nussenzveig comenta um projeto que está envolvido com outros importantes pesquisadores da área do ensino das ciências no Brasil: a reedição de uma coleção de kits científicos para crianças e adolescentes. Reedição porque na década de 1970 a Editora Abril lançou a referida coleção que era composta de publicações impressas e os kits propriamente ditos. Os fascículos eram vendidos nas bancas de jornal.
O projeto parece interessante e de grande valor.
O que nos chama a atenção, contudo, vem no final da primeira página (do texto on-line). Depois de apresentar quem são os pesquisadores que estão envolvidos no projeto e mencionar a possibilidade de o Ministério da Educação comprar os kits para distribuí-los nas escolas, Nussenzveig afirma que, como outros, ele não concorda com esse encaminhamento. Em muitas escolas os kits não chegariam às mãos dos alunos porque, ainda segundo o entrevistado, os professores não estão preparados para despertar os alunos a curiosidade que é a mola da ciência. Ou seja, os professores não são capazes de motivar os alunos para se envolver com a ciência.
Entende-se que a escola - ou o que podemos chamar de educação formal - não responde de modo adequado à necessidade de iniciar os alunos no campo das ciências. O que, aliás, Nussenzveig reafirma, é essencial nos dias de hoje.
O que nos chama a atenção é justamente isso. Há uma desconfiança em relação à escola.
Não vamos aqui simplesmente nos colocar contra o entrevistado. Negar essa desconfiança seria uma imprudência. Ela existe, é um fato incontestável.
Nossa pergunta, pensamos, deve ser: Por que a escola não responde às necessidades da sociedade?
Ao mesmo tempo, o que faz com a educação não escolar apareça como meio mais eficaz para empreender tão importante objetivo como esse que é apresentado?