quinta-feira, junho 21, 2012

Vidas secas

Li Vidas secas com 13 anos de idade.

Obrigação escolar que Dona Rosalina, minha professora de português, nos havia passado.

Já era razoável leitor, mas esse foi o primeiro livro que me causou emoção. Chorei ao final do capítulo Baleia e os olhos marejam quando me recordo disso escrevendo este post.

Descobri assim o que é uma obra de arte.

As cargas de chumbo no lombo da indefesa cachorrinha doeram dentro de mim. Que crueldade.

Eu, pobre garoto de uma cidade de interior de São Paulo, conhecia apenas o quintal de minha casa e o caminho que levava à escola. A vida devia ser seca também. Os carrapatos e as cargas de chumbo vinham de outras formas.

Mas, Dona Rosalina, que eu tanto admirava (me perguntava: será que um dia eu terei a cultura dessa mulher?), nos reservou outras tarefas também emocionantes: ler O conto da vara, de Machado de Assis; Admirável mundo novo, de Huxley (porque era o ano em que se gerava o primeiro ser humano por meio de inseminação in vitro ou, no vocabulário da época, um "bebê de proveta"); e o Conversa de bois, que está no meio de Sagarana. Esse último eu gostei tanto que li o livro todo, do Burrinho pedrês até o maravilhoso A hora e a vez de Augusto Matraga. Uau! - o melhor ficou justamente para o final.

Compartilho com o leitor o filme Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no livro de Graciliano Ramos.


terça-feira, janeiro 24, 2012

A ética na política no episódio do Pinheirinho

Desde o último domingo, dia  22 de janeiro de 2012, vemos notícias sobre uma operação de reintegração de posse de uma área do município de São José dos Campos (veja aqui uma das notícias publicadas).
O acontecimento, em si, é complexo. De outro lado, os fatos são apresentados de forma a ativar nossos diversos sentimentos. Contudo, o lamentável disso tudo é ver um grupo enorme de pessoas extremamente vulneráveis pagar pela disputa eleitoral para o comando de um dos principais municípios de São Paulo e do Brasil.

O "dérbie" PT x PSDB travado em São José dos Campos mostrou a sua face cruel. Falou-se em tragédia humanitária. Não duvido.

É claro que é importante conhecer o método e os intrumentos que foram utilizados. Isto é, os trâmites judiciais e, nesse caso, o conflito entre ordens das justiças estadual e federal. Todavia, penso que o importante é deixar claro os fins de tudo isso. Tribunais, polícia, mídia são conduzidos de modo a provocar sensações que devem render votos no próximo mês de outubro. O que o que está por trás disso tudo é o clima de guerra de torcidas da disputa eleitoral entre os principais partidos brasileiros. Disputa que não se contenta em ser tragédia e se transforma em desastre.

Os protagonistas silenciosos desse espetáculo apenas aguentam a dureza da vida, agora um tanto quanto mais dura. A diferença é que, marca de nosso tempo, se passa como um reality show. Mostrada para ser utilizada como propagando eleitoral.  Oh admirável mundo novo!

O episódio do Pinheirinho deveria servir para discutirmos a ética na política. Mas, infelizmente, isso parece improvável. Então, oxalá que não haja outros Pinheirinhos.