quinta-feira, junho 21, 2012

Vidas secas

Li Vidas secas com 13 anos de idade.

Obrigação escolar que Dona Rosalina, minha professora de português, nos havia passado.

Já era razoável leitor, mas esse foi o primeiro livro que me causou emoção. Chorei ao final do capítulo Baleia e os olhos marejam quando me recordo disso escrevendo este post.

Descobri assim o que é uma obra de arte.

As cargas de chumbo no lombo da indefesa cachorrinha doeram dentro de mim. Que crueldade.

Eu, pobre garoto de uma cidade de interior de São Paulo, conhecia apenas o quintal de minha casa e o caminho que levava à escola. A vida devia ser seca também. Os carrapatos e as cargas de chumbo vinham de outras formas.

Mas, Dona Rosalina, que eu tanto admirava (me perguntava: será que um dia eu terei a cultura dessa mulher?), nos reservou outras tarefas também emocionantes: ler O conto da vara, de Machado de Assis; Admirável mundo novo, de Huxley (porque era o ano em que se gerava o primeiro ser humano por meio de inseminação in vitro ou, no vocabulário da época, um "bebê de proveta"); e o Conversa de bois, que está no meio de Sagarana. Esse último eu gostei tanto que li o livro todo, do Burrinho pedrês até o maravilhoso A hora e a vez de Augusto Matraga. Uau! - o melhor ficou justamente para o final.

Compartilho com o leitor o filme Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no livro de Graciliano Ramos.