Há inúmeros exemplos de órgãos da mídia que ultrapassam os limites éticos.
O jornalista Luis Nassif postou em seu blog um comentário de um leitor que faz uma reflexão sobre os custos e benefícios da injúria promovida por um órgão da mídia, especificamente, a revista Veja (ver aqui).
O comentarista vê a presença de um pensamento de curto prazo de natureza meramente contábil (pagamento de indenizações) que não estaria considerando o custo, no longo prazo, da perda da credibilidade.
Penso que o problema é muito sério. O que se vê na referida revista e, especialmente nos blogs de alguns de seus articulistas, é um estilo que, na ânsia de apontar o dedo, descamba para o abuso das palavras. A conseqüência é a impossibilidade do debate democrático. Contudo, é necessário destacar, não se trata de uma exclusividade dos órgãos da mídia mencionados.
Na Antiguidade já diziam que a palavra pode ser ao mesmo tempo um remédio e um veneno. Penso que é com este último sentido que ela tem funcionado nos casos referidos acima. Dessa forma, uma visita aos ditos blogs é uma experiência assustadora para aqueles que apreciam a convivência dentro dos limites do respeito entre os seres humanos.
Trata-se de um problema sério (com o perdão pelo uso de uma figura de linguagem extremamente pobre) porque as palavras venenosas matam o debate democrático. Como dialogar se os indivíduos não se respeitam? Como fazer a política se o objetivo se resume a desqualificar o outro?
É algo para se pensar o que podemos chamar de “projeto educativo” desses veículos e articulistas. A palavra, aspecto central em nossa condição de ser humano e elemento essencial para a possibilidade de vivermos em sociedade (a política só é possível porque usamos as palavras), usada de modo arbitrário, torna-se elemento para impedir o debate.
Os articulistas apresentam-se como contrários ao que denominam de onda do “politicamente correto”. Sob esse argumentam permitem-se fazer ataques virulentos, desproporcionais, inconseqüentes. Revisitam o espaço do já velho movimento da denúncia a qualquer custo. Gastam energia numa luta insana contra qualquer um (instituição, indivíduo ou idéia) que não esteja de acordo com o que consideram verdade. Vão a passos largos para as bandas da intolerância. Intolerância, ou autoritarismo, que alguns deles, contraditoriamente, dizem combater.
É lamentável percebe que, apesar de o país haver alcançado uma situação de estabilidade institucional nos últimos 20 anos, o debate político em certos órgãos da mídia ainda esteja marcado por posições antidemocráticas que desprezam o pensar em favor de um espetáculo barato.
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